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Biodiversidade: um ativo estratégico no capital natural para as empresas

  • Sustainability
Publicado em 6 outubro 2025

Por Viviane Magalhães (Gerente de Unidade de Negócios) e Suzy Ribeiro (Analista Sênior) da área de Meio Ambiente da Tractebel Brasil, Chile e Canadá.

 

Capital natural é o conjunto de recursos e serviços oferecidos pelos ecossistemas que sustentam as atividades econômicas e sociais. Biodiversidade, solo fértil, água limpa, polinização e regulação climática são alguns exemplos desses serviços. A relação entre negócios e natureza, que por muito tempo foi indireta ou negligenciada, passou a ocupar papel central diante do avanço do risco climático, do colapso de ecossistemas e do aumento de exigências regulatórias e de mercado. Segundo o estudo State of Finance for Nature, publicado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), os fluxos financeiros com efeitos negativos sobre a natureza totalizam aproximadamente 7 trilhões de dólares por ano, o que representa cerca de 7% do PIB global. Paralelamente, o déficit de financiamento necessário para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável é estimado em 4,2 trilhões de dólares, dos quais cerca de 900 bilhões seriam destinados ao cumprimento das metas globais relacionadas à biodiversidade.

 

A pressão normativa vem crescendo com a entrada em vigor de diretrizes como a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (Corporate Sustainability Reporting Directive– CSRD), as normas da IFRS para sustentabilidade (International Financial Reporting Standards IFRS1 e IFRS2) e o Regulamento para Produtos Livres de Desmatamento (European Union Deforestation-Free Regulation – EUDR). Em comum, essas normas exigem que as organizações considerem, em suas estratégias, as dependências, riscos e impactos relacionados à natureza e à biodiversidade.

 

Na prática, incorporar a biodiversidade à estratégia empresarial requer avaliar os aspectos ecológicos afetados pelas operações, estabelecer metas de conservação ou redução de impactos e implementar medidas corretivas. Trata-se de uma mudança na forma como os riscos são analisados e comunicados, indo além dos aspectos financeiros tradicionais.

 

Negócios com cadeias de suprimentos altamente dependentes de recursos naturais já percebem os efeitos dessas mudanças. Perdas de produtividade agrícola, escassez hídrica ou maior incidência de eventos extremos são fatores que afetam a competitividade. Por isso, cada vez mais empresas buscam identificar seus impactos sobre a biodiversidade, bem como as oportunidades associadas à sua preservação, como acesso a mercados sustentáveis e atração de investimentos.

 

Além de contribuir para a resiliência do negócio frente as mudanças ambientais e de mercado, a adoção de estratégias voltadas à biodiversidade favorece a reputação institucional, a inovação tecnológica e a abertura para segmentos emergentes como os créditos de biodiversidade, serviços ecossistêmicos e soluções baseadas na natureza.

 

Estratégia corporativa deve avaliar a relação entre negócios, biodiversidade e finanças

 

O primeiro passo para incorporar a natureza à estratégia corporativa é compreender os conceitos que regem a relação entre negócios, biodiversidade e finanças. Diversos frameworks vêm sendo desenvolvidos com esse propósito, e entre eles destaca-se a Taskforce on Nature-related Financial Disclosures (TNFD), uma das iniciativas mais recentes e amplamente adotadas por organizações de diferentes setores. Em 2024, a organização divulgou que mais de 500 empresas e instituições financeiras, representando conjuntamente US$ 17,7 trilhões em ativos sob gestão, comprometeram-se a adotar seu framework para divulgação dos riscos relacionados à natureza.

 

A TNFD organiza esses conceitos em torno de quatro elementos principais: dependências, impactos, riscos e oportunidades.

  • Dependências referem-se aos elementos da natureza dos quais as atividades econômicas dependem diretamente.
  • Impactos são as alterações causadas aos ecossistemas pelas operações empresariais.
  • Riscos e oportunidades se desdobram a partir dessas relações: riscos físicos, regulatórios e reputacionais, por um lado, e oportunidades associadas à valorização de práticas responsáveis, por outro.

 

Compreender essa lógica permite às empresas estruturar uma abordagem sistêmica. A inclusão da biodiversidade na gestão de riscos, na avaliação de fornecedores, no desenvolvimento de produtos ou no relacionamento com comunidades pode ser feita de forma progressiva, desde que exista um comprometimento institucional com essa agenda.

 

Ferramentas e métodos para avaliar impactos e dependências da natureza e da biodiversidade

 

Transformar os compromissos com a natureza e a biodiversidade em ações concretas ainda representa um desafio para grande parte das organizações. Isso se deve, em parte, à dificuldade de estabelecer métricas, indicadores e metas que sejam compatíveis com a realidade operacional de cada setor. Diante dessa complexidade, elaborar uma abordagem única pode representar um desafio. Por isso, é fundamental que as organizações analisem seus impactos e dependências, identificando os riscos e oportunidades relacionados às suas atividades, e, a partir dessa análise, adaptem as ferramentas e estruturas metodológicas disponíveis que melhor se alinhem ao seu contexto operacional e estratégias.

 

Nesse contexto, a abordagem LEAP (Localizar, Estimar, Avaliar e Preparar), proposta pelo TNFD, apresenta-se como uma metodologia prática e acessível. Essa estrutura auxilia empresas na identificação, avaliação, gestão e comunicação de questões relacionadas à natureza de forma estruturada e compatível com suas operações, independentemente do porte ou setor.

 

Outras iniciativas complementares ao LEAP também contribuem para a estruturação de estratégias corporativas voltadas à natureza. Organizações especializadas, como a The Biodiversity Consultancy (TBC), destacam a importância de alinhar as métricas de biodiversidade às metas globais, às exigências regulatórias e aos compromissos corporativos. Segundo a TBC, a escolha das ferramentas deve considerar a adequação ao contexto e as limitações de cada método. Abordagens mais amplas oferecem maior aplicabilidade, mas com menor nível de detalhamento. Métodos mais específicos, por outro lado, produzem análises mais refinadas, embora demandem maior esforço técnico e apresentem aplicabilidade mais restrita. A escolha metodológica deve, portanto, equilibrar abrangência e profundidade, assegurando que os resultados sejam compatíveis com as necessidades do negócio e apoiem decisões estratégicas fundamentadas.

 

Integrar a biodiversidade à tomada de decisão requer uma mudança de perspectiva: reconhecer a natureza como um ativo estratégico, não apenas como um tema ambiental. Isso implica ampliar a governança, capacitar equipes, revisar critérios de investimento e adotar ferramentas de medição e avaliação.

 

A abordagem deve ser gradual, com base em dados confiáveis e adaptada ao contexto da empresa. Iniciativas como a TNFD e diretrizes internacionais podem oferecer suporte metodológico, mas a efetividade depende do comprometimento interno e da articulação com as partes interessadas.

 

Experiência da Tractebel na integração do capital natural à estratégia corporativa

 

A Tractebel tem desenvolvido projetos voltados à avaliação e gestão de riscos relacionados à natureza em diversos setores. Um dos exemplos é a análise de risco de estresse hídrico em ativos de mineração de uma organização global com operações em múltiplas regiões. Esse trabalho possibilitou um entendimento aprofundado das vulnerabilidades associadas ao uso da água, contribuindo para o estabelecimento de metas estratégicas de redução e para a formulação de planos de ação orientados à mitigação de riscos operacionais e reputacionais.

 

Além disso, a Tractebel tem avançado na construção de soluções técnicas para o rastreamento de impactos sobre a biodiversidade. Entre elas, destaca-se a modelagem para o cálculo da perda líquida de biodiversidade (No net loss), que permite estimar a perda de espécies em diferentes escalas temporais e espaciais. Esses resultados oferecem subsídios para a definição de estratégias mais robustas de mitigação, compensação e conservação, alinhadas às metas ESG das organizações.

 

Como parte do compromisso com a agenda da natureza e do entendimento da relevância dessa pauta para nossos clientes, a Tractebel tem orgulho de integrar o primeiro ciclo oficial de treinamento promovido pela TNFD, iniciativa que congrega um seleto grupo de organizações em nível global. Essa participação reforça nossa atuação como parceira qualificada para empresas que buscam incorporar critérios de sustentabilidade em suas estratégias de negócios e na gestão de riscos.

 

Você gostaria de saber mais sobre a atuação da Tractebel? Entre em contato.

Suzy Ribeiro

Analista sênior da área de Meio Ambiente da Tractebel Brasil, Chile e Canadá.

Viviane Magalhães

Gerente de Unidade de Negócios da Tractebel Brasil, Chile e Canadá.